Thursday, June 5, 2014

[Estudo] Retornos da bolsa brasileira de 1968 à 2014

Lendo o livro "Stocks for the Long Run" do Siegel, surgiu a motivação de procurar dados da bolsa brasileira em períodos mais longos, para realizar umas análises sobre o comportamento dos retornos anualizados utilizando a técnica de Buy and Hold em uma carteira que espelhasse o mercado.

O presente estudo foi realizado utilizando os dados de fechamento da bolsa brasileira do ano de 1968 até 2014, presente neste link. Sendo que os valores de fechamento foram convertidos para o dólar americano, visando assim desprezar os períodos de hiperinflação que ocorreram no Brasil antes do plano real.

Metodologia

A partir dos dados fornecidos pela bovespa, foi realizado os cálculos para obter todos os retornos compostos anualizados de 1968 à 2014, simulando a entrada e saída com aporte único em todos os períodos.

Em seguida segmentei os resultados encontrados nos intervalos de 5, 10, 20 e 30 anos, visando encontrar os retornos obtidos para carteiras de buy and hold nos respectivos períodos de maturação.

Por exemplo, para os períodos de 10 anos, foi calculado os retornos dos períodos de 1968 à 1978, 1969 à 1979, ... , 2004 à 2014.

Vale ressaltar que no presente estudo não foi realizado uma comparação com o custo de oportunidade nos ativos de renda fixa, sendo assim a priori não dá pra se concluir de quanto foi o "Equity premium" nos períodos analisados.

Resultados


Observando o gráfico dos intervalos de 5 anos, visualiza-se a forte instabilidade nos retornos, comprovado pelo desvio padrão alto na casa dos dois dígitos. Isto reforça a hipótese de que as ações são ativos de risco, ao menos no curto prazo . Logo períodos de 5 anos não nos parecem muito indicados para a estratégia de buy and hold.

A média dos intervalos ficou em 13.36% (a.a) e desvio padrão de 19.96%.



Gráfico 1 - Intervalos de 5 anos


Para intervalos de 10 anos, nota-se que após o período de 1976 à 1986, um investidor não teria obtido prejuízos nominais, caso tivesse entrado em qualquer momento e saído 10 anos depois. Destaca-se também nos intervalos de 1986 à 1996 até 1990 à 2000, no qual os retornos ficaram significativamente a cima da média, chegando a atingir os picos de 30% a.a.
A média dos intervalos ficou em 11.84% (a.a) e desvio padrão de 8.92%.


Gráfico 2 - Intervalos de 10 anos


Nos intervalos de 20 anos, observa-se uma clara suavização nas curvas, o que nos mostra que para períodos de maturação longa, os retornos são bastante similares uns com os outros.

Observa-se que mesmo em um período muito longo de tempo, um investidor que tivesse confiado na estratégia de buy and hold no período de 1970 à 1990, teria obtido um retorno negativo de -0.74% a.a. Mas no geral os demais períodos performaram relativamente bem. 

A média dos intervalos ficou em 12.74% (a.a)e desvio padrão de 5.45%.


Gráfico 3 - Intervalos de 20 anos


Quando os intervalos aumentaram para 30 anos, observou-se que não ocorreram retornos compostos negativos nos períodos analisados, ao contrário dos períodos de 10 e 20 anos. Embora ainda assim, um investidor que tivesse montado uma carteira de buy and hold entre os anos 1970 e 1971 espelhando o mercado, teria obtido retornos de aproximadamente ~7% a.a durante 30 anos de investimentos. Isso nos mostra que o ponto de entrada / timing é muito importante, caso contrário, o investidor pode desperdiçar um bom período da vida e ao final não obter retornos satisfatórios.
A média dos intervalos ficou em 12.28% (a.a) com um desvio padrão de 3.16%.


Gráfico 4 - Intervalos de 30 anos


A evidente diluição da volatilidade dos retornos compostos com o aumento do intervalo de tempo, ficou bem explícita no gráfico abaixo, onde a diferença entre o desvio padrão no intervalo de 5 anos, para o intervalo de 30 anos é de aproximadamente 17%.


Gráfico 5 - Desvio padrão por intervalo


Conclusão

Em todas as quatro simulações, observa-se que a média dos retornos giraram em torno dos 12% a.a, o que demonstra que para o mercado brasileiro, o aumento do intervalo na média, não impactou de maneira significativa nos retornos. Nota-se também de maneira bem clara, que o desvio padrão tende a diminuir quando aumentamos o intervalo de anos, na estratégia de buy and hold.
De maneira superficial, pois uma comparação formal não foi realizada entre os ativos de renda fixa e renda variável, poderíamos inferir que o mercado brasileiro na média, não pagou um "Equity premium" relevante nos períodos estudados, pois sabemos que a taxa de juros básica brasileira sempre esteve em patamares muito altos no nosso país. Porém para confirmarmos esta hipótese, seria necessário um estudo mais formal sobre a renda fixa no brasil.

OBS:
Peço aos colegas da blogosfera que não exitem em fazer críticas ou sugestões a metodologia do estudo. Pois assim como a maioria, sou amador nessa área e posso ter cometido erros nas minhas simulações.

10 comments:

  1. Investidor Insano,
    Muito bom mesmo, meus parabéns!
    Você comprovou por si mesmo que a volatilidade dos retornos tende a diminuir com períodos menores de tempo, que é a tese central do livro do Siegel.
    Gostei muitos dos gráficos.
    Mandei e-mail para você, mas não sei se chegou.
    Fazer um estudo sobre a RF no período seria muito interessante, e eu nunca vi isso sendo feito no Brasil (deve existir, mas eu não conheço). Aí sim poderíamos ver se existiu prêmio, quando existiu, se em alguns momentos foi negativo (como em 1994 a 2014).
    Gostei bastante do artigo. Outra coisa interessante é, e aqui é um pouco mais complexo, que os premium dos ativos, segundo a teoria mais atual, não é fixo, mas varia de acordo com o tempo, e está muito relacionado com a valuation prévia do mercado, algo que você captou levemente nesses gráficos.

    Traduzindo: em média, nos EUA, o retorno das ações sobre a RF foi algo em torno de 5% desde a década de 20. Entretanto, nada leva a crer que esse é um retorno fixo, mas sim que varia no tempo. Logo, a perspectiva de retorno para alguém que investe no mercado acionário com uma valuation alta (pense em 2000, 2007 ou até mesmo agora) será menor do que alguém que investe em períodos de valuation baixa.
    Sim, é o comprar na baixa e vender na alta, mas pensando de uma maneira mais técnica, sobre retornos esperados.

    Abraço colega!

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    1. A volatilidade obviamente tende a diminuir com períodos MAIORES, não menores. Pequeno erro que cometi.

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    2. Olá Soul,
      Obrigado pela visita!

      Achei muito interessante o fato de que mesmo em mercados bem distintos, a volatilidade e os retornos serem tão similares ao longo do tempo.

      Até o momento não consegui encontrar dados sobre os retornos na RF, para o período antes do plano real. É como se a economia brasileira tivesse nascido em 1994, pois é super excassa as fontes com informações antes desse período.

      Outro ponto relevante a se notar, é a pressão que esses números colocam no investidor brasileiro, com uma taxa de juros bem super elevada. O investidor tem por obrigação, ter que vencer o mercado para fazer sentido a sua entrada na bolsa.

      Deixa ver se compreendi seu último parágrafo. Caso um investidor entre em períodos de bull ( os quais permitem que o preço das ações descolem do seu valor ), esse investidor no longo prazo poderá obter juros reais menores do que alguém que entre em períodos de bear. Seria isso? Entretanto os números mostram que mesmo os juros reais oscilando, eles sempre foram positivos em prazos muito longos, correto?

      Abração grande soul!

      PS: Eu vi sim seu email, só que estava na correria na universidade! Já te respondo!

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  2. muito bom mesmo.

    Tem algum outro estudo na blogosfera que fez dos últimos 20 anos e os títulos batiam o índice, só não achei mais este estudo.

    Temos que lembrar que estes estudos, inclusive o do Siegel, baseia-se no investimento no índice e não contempla a estratégia de Dollar cost average. Seria que isso tornaria o resultado diferente?

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    1. Olá RRX,

      Os títulos realmente bateram o mercado nos últimos 20 anos ( 94 ~ 2014 ). E olha que nossa taxa de juros caiu muito depois do plano real, acredito que antes desse período, muito provavelmente os títulos devem ter batido o mercado também.

      Exato, esses estudos são feitos utilizando o aporte único, o que não é a realidade para a maioria dos pequenos investidores, assim como eu e muitos outros na blogosfera. Olhando para os números, eu acredito fortemente que a estratégia de DCA, deve deixar os retornos próximos da média também.
      Assim que tiver um tempinho vou ver se faço esse estudo utilizando DCA.

      Abração e obrigado pela visita!

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  3. Grande Insano!
    Muito legal o estudo. Nos dá uma boa ideia do longo prazo.
    Chegou a fazer o histograma das variações? Para vermos se comportam-se como uma curva gaussiana!

    Fiz uma analise semelhante para a variação diária uma vez, com dados a partir de 1993 (yahoo finance):
    http://migrantefudido.blogspot.com.br/2014/02/voce-um-dia-vai-ser-rico.html

    Estava pensando justamente nisso hoje. Comparar com a renda fixa. Quem ganha nesse país de altas taxas e poucos investimentos ? A lógica seria o mercado de capitais... mas será? rsrsrs
    Se achar tempo e os dados, tempo analisar depois.

    abs
    t+

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    1. te add no blogroll.
      tamos juntos rumo à IF.
      abs

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    2. Como o período estudado foi em anos, a quantidade de amostras é relativamente baixa, o que nos daria um histograma com pouca relevância não acha? Para o seu artigo em dias, ele se encaixa perfeitamente, pois o número de amostras é monstruoso!

      Pois é será que eles em sua maioria ganham dinheiro? Acho que sim, pois o que tem de corretora não tá no gibi :p, mas de vez em quando uma quebra rs. Pra ganhar dinheiro aqui com a bolsa só não pode espelhar o mercado, pois os dados até o presente não nos favorece. Só nos resta, nos arriscarmos no Stock Picking na perspectiva de retornos a cima do mercado.

      Estou a procura desses dados da renda fixa! Se conseguir, divulgarei por aqui!

      Ta add no blogroll, abração!

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  4. Fala, II,

    interessante como a volatilidade diminui com o tempo, não é mesmo? hehe

    Bom, tenho dois pontos a levantar para questões de pensamento

    1) O soul já comentou: o interessante é comparar com a renda fixa. Se o país cresce, a bolsa cresce, isso vai ser fato. A grande questão é: cresceu mais ou menos q outros ativos?

    2) Vc dolarizou o estudo e isso muda drasticamente a maneira na qual um investidor deveria se posicionar; tipo, só comprar IBOV e esperar que se obtenha 12%aa seria falso. O investidor, de alguma maneira, deveria ter sua carteira hedgeada em dólar para esperar (sem garantia alguma) o mesmo desempenho que vc mostrou.

    Abraços!

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