Lendo o livro "Stocks for the Long Run" do Siegel, surgiu a motivação
de procurar dados da bolsa brasileira em períodos mais longos, para
realizar umas análises sobre o comportamento dos retornos anualizados
utilizando a técnica de Buy and Hold em uma carteira que espelhasse o
mercado.
O presente estudo foi realizado utilizando os dados de fechamento da bolsa brasileira do ano de 1968 até 2014, presente neste
link.
Sendo que os valores de fechamento foram convertidos para o dólar
americano, visando assim desprezar os períodos de hiperinflação que
ocorreram no Brasil antes do plano real.
Metodologia
A
partir dos dados fornecidos pela bovespa, foi realizado os cálculos
para obter todos os retornos compostos anualizados de 1968 à 2014,
simulando a entrada e saída com aporte único em todos os períodos.
Em
seguida segmentei os resultados encontrados nos intervalos de 5, 10, 20
e 30 anos, visando encontrar os retornos obtidos para carteiras de buy
and hold nos respectivos períodos de maturação.
Por exemplo, para os períodos de 10 anos, foi calculado os retornos dos períodos de 1968 à 1978, 1969 à 1979, ... , 2004 à 2014.
Vale ressaltar que no presente estudo não foi realizado uma
comparação com o custo de oportunidade nos ativos de renda fixa, sendo
assim a priori não dá pra se concluir de quanto foi o "Equity premium" nos
períodos analisados.
Resultados
Observando
o gráfico dos intervalos de 5 anos, visualiza-se a forte instabilidade
nos retornos, comprovado pelo desvio padrão alto na casa dos dois
dígitos. Isto reforça a hipótese de que as ações são ativos de risco, ao
menos no curto prazo . Logo períodos de 5 anos não nos parecem muito
indicados para a estratégia de buy and hold.
A média dos intervalos ficou em
13.36% (a.a) e desvio padrão de
19.96%.
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Gráfico 1 - Intervalos de 5 anos |
Para intervalos de 10 anos,
nota-se que após o período de 1976 à 1986, um investidor não teria
obtido prejuízos nominais, caso tivesse entrado em qualquer momento e
saído 10 anos depois. Destaca-se também nos intervalos de 1986 à 1996
até 1990 à 2000, no qual os retornos ficaram significativamente a cima
da média, chegando a atingir os picos de
30% a.a.
A média dos intervalos ficou em
11.84% (a.a) e desvio padrão de
8.92%.
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Gráfico 2 - Intervalos de 10 anos |
Nos
intervalos de 20 anos, observa-se uma clara suavização nas curvas, o
que nos mostra que para períodos de maturação longa, os retornos são
bastante similares uns com os outros.
Observa-se que
mesmo em um período muito longo de tempo, um investidor que tivesse
confiado na estratégia de buy and hold no período de 1970 à 1990, teria
obtido um retorno negativo de
-0.74% a.a. Mas no geral os demais períodos performaram relativamente bem.
A média dos intervalos ficou em
12.74% (a.a)e desvio padrão de
5.45%.
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Gráfico 3 - Intervalos de 20 anos |
Quando
os intervalos aumentaram para 30 anos, observou-se que não ocorreram
retornos compostos negativos nos períodos analisados, ao contrário dos
períodos de 10 e 20 anos. Embora ainda assim, um investidor que tivesse
montado uma carteira de buy and hold entre os anos 1970 e 1971
espelhando o mercado, teria obtido retornos de aproximadamente
~7% a.a durante
30 anos de investimentos. Isso nos mostra que o ponto de entrada /
timing é muito importante, caso contrário, o investidor pode desperdiçar
um bom período da vida e ao final não obter retornos satisfatórios.
A média dos intervalos ficou em
12.28% (a.a) com um desvio padrão de
3.16%.
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Gráfico 4 - Intervalos de 30 anos |
A
evidente diluição da volatilidade dos retornos compostos com o aumento
do intervalo de tempo, ficou bem explícita no gráfico abaixo, onde a
diferença entre o desvio padrão no intervalo de 5 anos, para o intervalo
de 30 anos é de aproximadamente
17%.
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Gráfico 5 - Desvio padrão por intervalo |
Conclusão
Em todas as quatro simulações, observa-se que a média dos retornos giraram em torno dos
12% a.a,
o que demonstra que para o mercado brasileiro, o aumento do intervalo
na média, não impactou de maneira significativa nos retornos. Nota-se
também de maneira bem clara, que o desvio padrão tende a diminuir quando
aumentamos o intervalo de anos, na estratégia de buy and hold.
De
maneira superficial, pois uma comparação formal não foi realizada entre
os ativos de renda fixa e renda variável, poderíamos inferir que o
mercado brasileiro na média, não pagou um "Equity premium" relevante nos
períodos estudados, pois sabemos que a taxa de juros básica brasileira
sempre esteve em patamares muito altos no nosso país. Porém para
confirmarmos esta hipótese, seria necessário um estudo mais formal sobre
a renda fixa no brasil.
OBS:
Peço
aos colegas da blogosfera que não exitem em fazer críticas ou sugestões
a metodologia do estudo. Pois assim como a maioria, sou amador nessa
área e posso ter cometido erros nas minhas simulações.